Desnervação crônica de músculo esquelético
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DESNERVAÇÃO  CRÔNICA

            A desnervação é uma das alterações patológicas mais comuns em músculo. Decorre da perda do  axônio motor, ou de todo o motoneurônio. Há muitas causas. Pode ocorrer doença do próprio motoneurônio, como na esclerose lateral amiotrófica ou na amiotrofia espinal, trauma medular, compressão da medula espinal por tumores, etc.  Ou pode haver lesão do axônio motor nos nervos periféricos; as neuropatias periféricas de qualquer etiologia são causas importantes de desnervação crônica. 
            A fibra muscular desnervada sofre atrofia simples, com redução de volume por diminuição do número de miofibrilas e organelas. O contorno externo da fibra, que é normalmente poligonal com ângulos arredondados, geralmente torna-se angulado, devido à compressão pelas fibras vizinhas não atróficas. 


 
MÚSCULO   COM  DESNERVAÇÃO  CRÔNICA - HE
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Há variação do diâmetro das fibras, sendo as menores atróficas (desnervadas) e as maiores provavelmente hipertróficas. Trata-se de hipertrofia vicariante, pois as fibras inervadas passam a trabalhar mais. Na fig à D nota-se no centro do campo um fascículo com fibras atróficas muito alongadas. São fibras atróficas anguladas, que sofreram compressão pelas fibras próximas que estão normais ou hipertróficas.  Como as fibras atróficas ficam próximas, fala-se em atrofia em pequenos grupos, outra importante característica da desnervação crônica. 
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DESNERVAÇÃO  CRÔNICA - ATPase
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            A maior contribuição da ATPase em biópsias musculares é identificar grupamento de tipos de fibras em músculos cronicamente desnervados. 

No músculo normal vimos que a distribuição das fibras dos tipos 1 e 2 no músculo é aleatória, dando um aspecto que vagamente lembra um tabuleiro de xadrêz.  Isto ocorre porque as fibras de diferentes unidades motoras estão misturadas. 

Que é unidade motora?    É o conjunto de um neurônio motor e das fibras musculares por ele inervadas.  O tipo da fibra muscular, 1 ou 2 (lenta ou rápida), é determinado pelo neurônio que a inerva.  Portanto, todas as fibras inervadas por um neurônio são do mesmo tipo.  O tamanho da unidade motora varia com o músculo.  É maior em músculos responsáveis por movimentos potentes e grosseiros, como o quadríceps (cerca de 200 fibras por neurônio). É mínima em músculos que executam movimentos finos e altamente regulados como a musculatura extrínseca do globo ocular (cerca de 8 fibras por neurônio). 

A ramificação do axônio se dá já no interior do músculo.  O axônio motor percorre a distância entre a medula espinal e o músculo praticamente sem se dividir.  Depois de penetrar no músculo, isto é, nos fascículos nervosos intramusculares, o axônio sofre ramificações dicotômicas antes de terminar nas placas motoras, uma para cada fibra muscular, e geralmente na região média da fibra (entre origem e inserção). 

A unidade motora tem grande reserva funcional.  O número de fibras musculares inervadas por um axônio pode aumentar no caso de fibras próximas ficarem desnervadas por degeneração do seu axônio. O axônio pré-terminal sadio de uma fibra vizinha dá origem a um broto novo, que reinerva a fibra desnervada.  Com isso, o tamanho da unidade motora pode chegar a cerca de 4 vezes o original (no caso do quadríceps, 800 fibras em vez de 200), dando unidades motoras 'gigantes'.  Isto impede a atrofia da fibra e mantém a potência funcional do músculo (dentro de certos limites). 

O tipo da fibra muscular é determinado pelo axônio que a inerva.  A fibra muscular  mudará de tipo se for reinervada por um axônio do tipo oposto.  Isto é, uma fibra rápida passará a lenta se for inervada por um axônio do tipo lento.  O tipo histoquímico e as características funcionais da fibra são determinadas por proteínas secretadas pelo terminal nervoso na placa motora, que interagem com genes da fibra muscular.  A mudança de tipo implica na síntese de miosina do tipo oposto, e substituição das proteínas antigas por novas.  Desta forma, fibras que reagiam fortemente para ATPase no pH básico (tipo 2) passam a reagir fracamente (tipo 1). 

Que é grupamento de tipos?   É a perda da distribuição casual das fibras dos dois tipos (normalmente 'em tabuleiro de xadrêz'), resultando em aparecimento de grupos maiores de fibras do mesmo tipo.  Grandes áreas, até fascículos inteiros, podem ficar constituídas de fibras do mesmo tipo.  Isto ocorre porque, por perda de um axônio, as fibras desnervadas são reinervadas pelo axônio vizinho do outro tipo, resultando em troca do tipo histoquímico, e formação de unidades motoras maiores. 

Qual a importância do grupamento de tipos?  Grupamento de tipos é virtualmente patognomônico de desnervação crônica, permitindo diagnóstico seguro.   O mesmo campo, em HE, pode parecer normal, porque as fibras desnervadas e reinervadas não sofrem atrofia. Fibras atróficas anguladas e atrofia em pequenos grupos podem estar ausentes. 

Há outro meio de observar unidades motoras 'gigantes'?   A eletroneuromiografia (ENMG) é um exame em que os impulsos elétricos originados em nervos e músculos são captados e amplificados por um aparelho, o eletromiógrafo.  Na ENMG o tamanho dos potenciais de ação obtidos num músculo (geralmente por inserção de uma agulha) é indício do tamanho da unidade motora.  Se a unidade motora é maior, os potenciais de ação também aumentam, indicando desnervação crônica. 

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GRUPAMENTO DE TIPOS
As fibras tipos 1 e 2 estão arranjadas em grupos mais ou menos homogêneos que podem incluir  fascículos inteiros. Há perda do padrão 'em tabuleiro de xadrez' (ver músculo normal).  Para um grupamento extenso como este, é necessária desnervação crônica de longa duração, e boa eficiência na reinervação.  Quando a desnervação é recente pode não haver tempo para ocorrer grupamento de tipos (abaixo). 
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A técnica da ATPase demonstra bem as fibras atróficas anguladas já vistas em HE. Notar que as fibras atróficas pertencem aos dois tipos, indicando que tanto fibras rápida como lentas são igualmente afetadas.  Neste caso o grupamento de tipos é menos evidente, sugerindo desnervação de duração mais curta. 

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